Quando seu Lourival Vieira Borges, de 71 anos, soube que uma cisterna seria construída ao lado de sua casa não imaginou que veria algo tão diferente.
O agricultor mora em São José dos Ramos, a 59 quilômetros da Capital, e recebeu uma equipe do Projeto Cooperar para a capacitação que ensinou a ele e a outros representantes de quatro municípios a construir uma cisterna do tipo tela de alambrado, mais resistente do que as tradicionais.
O treinamento aconteceu na semana passada e reuniu 38 pedreiros e agricultores de São José dos Ramos, Itabaiana, Salgado de São Félix e Gurinhém. Dezenove comunidades serão beneficiadas, entre elas a de seu Lourival: Lagoa Dantas. “Pra mim foi muito bom receber essa orientação. Com essa cisterna, a gente vai contar com água de qualidade, sem contaminação e por mais tempo”, reflete o agricultor. Antes de receber o equipamento, ele dependia de uma cacimba existente na comunidade, com água salobra, imprópria para consumo. “Para beber, a gente tinha que comprar água. Agora, vai ser diferente”, comemora.
A cisterna de tela de alambrado é menos vulnerável à contaminação devido a própria estrutura. Ela é totalmente externa, diferente da tradicional, que fica quase toda enterrada. “Elas também são mais seguras. No Haiti, onde existem os dois tipos de cisterna, a de tela de alambrado permaneceu firme quando houve o último terremoto. Já as de placa não resistiram”, compara o instrutor da capacitação, Aderaldo Souza. Ele coordenou a introdução das cisternas de alambrado no Haiti e está disponibilizando a mesma técnica ao Governo da Paraíba, através do Projeto Cooperar. Tanto a capacitação quanto a construção das cisternas têm apoio do Governo do Estado. “Noventa por cento do valor necessário à construção das cisternas vêm do Governo e do Banco Mundial.
Em contrapartida, a comunidade entra com a mão-de-obra, materiais e alguns complementos”, explica o gestor do Projeto Cooperar, Roberto Vital. Segundo ele, cada reservatório tem capacidade para 16 mil litros de água e recebe investimentos de R$ 2,6 mil do Governo do Estado como garantia de segurança hídrica neste momento de estiagem. Entre as comunidades beneficiadas pelo investimento estão: Campo Grande, Sítio Lagoa do Rancho, Pororoca, Mendonça, Alto da Boa Esperança e Maracaípe, em Itabaiana; Lagoa de Serra, Pau D’alho, Rancharia, Lagoa de Pedra, Nova Conquista, Lagoa Dantas e Impoeira Cercada, em São José dos Ramos; Piacas, em Salgado de São Félix; e Manecos e Manecos 1, em Gurinhém.
Agentes multiplicadores
O pedreiro Antônio Alves de Almeida é outro beneficiado. Ele mora em Lagoa de Serra, em São José dos Ramos, e atua na construção civil há 50 anos. “Essa cisterna é novidade. Eu, como pedreiro, já construí muitas do outro tipo (de placa), mas deste (de alambrado) é a primeira vez”, revela. Ele acredita que a cisterna de tela de alambrado vai ser mais aproveitada. “Ela é mais simples e fácil de construir. O material é mais leve e o risco de contaminação é pequeno. A outra, de placa, por ser enterrada, deixa a água contaminada”, avalia o trabalhador. Esta semana, os representantes das comunidades que receberam as orientações vão repassar o que aprenderam para outras pessoas nas suas regiões de origem. “Eles serão agentes multiplicadores e vão compartilhar o conhecimento adquirido com outros trabalhadores. A ideia é agilizar essas construções e garantir logo a segurança hídrica das comunidades beneficiadas”, destaca o gestor do Cooperar, Roberto Vital.
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