CRÉDITO - VERTICALIZACAO ALTERA PAISAGEM DO NORDESTE E NORTE







Num país que associa desenvolvimento a arranha-céus, uma das mais visíveis alterações na paisagem urbana brasileira ocorre no modo de morar. Cada vez mais os brasileiros vivem uns sobre os outros, e os espigões residenciais, comuns em metrópoles como Rio e São Paulo, começam a recortar o horizonte nas principais cidades do Norte e do Nordeste, com torres cada vez mais altas e numerosas. Um ranking de capitais e suas respectivas Regiões Metropolitanas (RMs) feito pelo GLOBO com base nos dados dos Censos de 2000 e 2010 coloca cinco do Nordeste (São Luís, Aracaju, Natal, Maceió e João Pessoa) e duas do Norte (Manaus e Macapá) entre as dez que mais transferiram moradores para apartamentos no período.

Em todas as regiões metropolitanas do país, 11 milhões de brasileiros viviam em apartamentos em 2010, 21% a mais do que dez anos antes. Em alguns casos, o número mais que dobrou, como nas RMs de Manaus, Macapá e São Luís. E o crescimento continua. Levantamento da Lopes Consultoria de Imóveis mostra que, somente no ano passado, foram lançados 2.769 edifícios residenciais no país.

O aumento da renda, a consolidação de cidades de médio porte como polos de migração regional, a abertura de capital das empresas do ramo imobiliário e a maior oferta de financiamento explicam esse crescimento para além das grandes metrópoles do Sudeste.

A modernidade refletida em novos espigões pode trazer benefícios, como a possibilidade de concentrar mais população em bairros com melhor infraestrutura, preservando outras áreas da cidade do crescimento populacional. Pelo país, no entanto, o que se vê em várias cidades é a expansão imobiliária sem controle, provocando adensamento excessivo nos pontos mais cobiçados e saturando a infraestrutura urbana.

Há ainda um longo histórico de falta de transparência no trato do espaço público, sendo os construtores sempre os primeiros a saber de investimentos do poder público, de forma que chegam antes das obras de infraestrutura e se beneficiam com a valorização dos terrenos do entorno.
O resultado é que os mais pobres acabam excluídos dos bairros mais bem dotados de serviços, e nem os ricos conseguem viver sossegados, apesar do alto preço que pagam por isso. Em todo o país, multiplica-se o caos de metrópoles como São Paulo, onde trânsito, alagamentos e escassez de transporte público geram prejuízo para toda a sociedade.

— O indivíduo olha para o prédio onde mora e não consegue chegar. Leva meia hora para percorrer 400 metros — diz Damião Lopes, arquiteto e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, sobre o problema de tráfego criado pela verticalização em Fortaleza, onde só no ano passado surgiram cem novos prédios.

O ‘boom’ dos espigões sem investimento em infraestrutura também resulta em cenários como o verificado em São Luís, onde até prédios construídos em áreas nobres sofrem com problemas constantes de falta d’água. Ou em Belém, onde moradores de prédios modernos são vizinhos de áreas com esgoto a céu aberto e ruas sem calçadas ou identificação. O crescimento vertical tem impacto também no clima. Em Aracaju, áreas da cidade ficaram mais quentes por causa da barreira de prédios na orla, que dificulta a circulação do ar.

Fonte: O Globo
http://oglobo.globo.com/pais/verticalizacao-altera-paisagens-de-cidades-do-norte-do-nordeste-8174401



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