Centro de Artesanato renova área do Porto de
Recife, com obras de mais de 500 artistas de Pernambuco
RECIFE - Mesmo ainda não totalmente revitalizado, o porto de Recife virou o novo point da cidade. Em breve vai ganhar museu, centro de convenções, hotel de luxo e marina. Mas já se tornou área de visita indispensável para os turistas que passam pela capital do estado. Tudo por conta da inauguração do Centro de Artesanato de Pernambuco, que reúne o que há de melhor na produção artesanal do litoral, da região agreste e do sertão. Se o estado é conhecido pela diversidade de sua música e do carnaval, o mesmo acontece com o artesanato, geralmente identificado com a tradição de bonecos de barro, herdada de mestre Vitalino, do Alto do Moura, em Caruaru.
Mas a produção local é muito mais do que isso. E se expressa também através da madeira, da renda, do uso de fibras, do vidro, da palha, do cipó, do papel machê, de outros materiais recicláveis e até de ferros retorcidos. E é muita gente produzindo: há 7,5 mil artesãos cadastrados no estado, dos quais 525 acabam de ganhar uma vitrine permanente, instalada no Armazém 11, à beira do cais. A velha edificação, de 2.511 m², conta com 16 mil peças expostas e à venda.
Como se esse colírio não bastasse, o Centro desvendou a paisagem de um ângulo ao qual não se tinha acesso anteriormente, por se tratar de uma área de movimentação de carga do porto. Agora, milhares de pessoas acorrem ao local, principalmente nos fins de semana, para desfrutar da vista do mar, do parque de esculturas Francisco Brennand e, por que não dizer, das noites de lua cheia. É que além dos salões para exposição e venda de artesanato, a velha edificação ganhou paredes de vidro no restaurante anexo, o Boteco, onde se degustam as delícias da terra de olho no azul do mar. É daí, também, que se avista outro local muito visitado do Recife, o parque criado pelo conhecido artista pernambucano Brennand e que foi erguido em um pontilhão que separa as águas tranquilas do ancoradouro do chamado mar aberto.
Artesanato. Centro inaugura o Porto Novo
Inaugurado em setembro pelo governo de Pernambuco e considerado o maior do Brasil no segmento, o Centro de Artesanato inaugura o Projeto Porto Novo em Recife, inspirado em experiências como a Estação Docas, de Belém do Pará, e Puerto Madero, em Buenos Aires. Até o fim do ano será entregue o Cais do Sertão, dedicado a Luiz Gonzaga, enquanto os demais armazéns serão usados como terminal de passageiros, restaurantes, bares, lojas, escritórios e centro de convenções, integrado a um hotel e uma marina.
A primeira coisa que merece destaque no Centro é o local, bem diferente de pontos de venda de produtos feitos à mão no Nordeste. E não se vê falso artesanato, peças exaustivamente repetidas e muito menos de gosto duvidoso, característica comuns a mercados do gênero. A segunda é que além de oferecer o que há de bom e do melhor no estado, e só dele, há peças de todos os preços: de R$ 1,25 (miniboi de barro) a R$ 37 mil (presépio confeccionado por Roque Santeiro). O terceiro ponto é que além de conhecer a cultura local, o visitante ainda encontra sugestões de como adequar mesas, cadeiras, tapeçarias artesanais à decoração da casa. Para isso, além das gôndolas com as peças à venda (que podem ser transportadas em carrinhos de supermercado), há ambientes sugestivos que podem inspiram a decoração de casa, como cangas que viram cadeiras, xilogravuras extraídas da literatura de cordel usadas em tapeçaria (de parede ou tapete para o chão). Um lembrete: as tais cangas não são as populares saídas de praia, mas sim as que vêm do campo, onde são colocadas nos bois seja para arar a terra ou para o transporte. Outra curiosidade é a transformação de peças rústicas como as mesas artesanais produzidas por Euclides Martins em peças sofisticadas. Sem correr o risco de parecer cafona, esses móveis ganharam vidros e espelhos. Um requinte.
Além dos ambientes que levam ao interior de casas nordestinas, a Central tem uma área dedicada só aos mestres e outra a exposição de peças premiadas na Fenearte, a maior feira de artesanato da América Latina, que acontece anualmente em Recife. E as peças são separadas por segmento: madeira, fibra, metal, cerâmica, fibras, têxtil. E aqui vão mantas, frivolitês, bordados, fuxicos, renascença, tapeçaria. Há, ainda, marchetaria, vidro e papel machê. E tem a ala só de brinquedos populares: o sucesso é tão grande que esgotou o estoque de mané-gostoso, boneco de madeira muito popular na região.
As peças expostas no Centro trazem o nome do autor, a origem e o telefone. Quem quiser pode procurar diretamente o artesão. Mas, às vezes, os artistas residem em áreas distantes, como em Petrolina, a 770 quilômetros da capital, de onde vêm as carrancas do Rio São Francisco.
Ao ver a variedade de peças à mostra durante sua visita, a pedagoga paraibana Isabel Araújo se mostrou surpresa:
— Esse artesanato todo é só de Pernambuco?
Roberto Lessa, diretor de Promoção de Economia Criativa da Agência de Desenvolvimento de Pernambuco (AD Diper), lembra que o pernambucano tem tradição e gosto pelo artesanato. E a prova está no Centro.
— Fizemos um estoque de 16 mil peças, mas 15 mil foram vendidas em 20 dias — diz lembrando que as peças selecionadas passam pelo rigor de uma comissão de avaliação formada por oito pessoas que conta, também, com um artesão.
A equipe que atende aos turistas fala inglês, italiano, espanhol e francês. O centro consumiu R$ 6,5 milhões e conta com um bistrô e boteco com vista panorâmica. As mesas são disputadíssimas e a comida, idem. O restaurante tem horário prolongado e nos fins de semana fica aberto até de madrugada. Se você pretende conhecer o lugar com calma para observar as peças, é melhor escolher o meio da semana, de preferência pela manhã, porque o local tem ficado lotado aos sábados e domingos.
FONTE: O GLOBO